domingo, 18 de julho de 2010

Começando a estudar o Barba Azul

Olá!

Já que temos visto que se proliferam por aí Brunos e Mizaels e Mel Gibsons, é inevitável chegar à conclusão de que estudar o Barba Azul é imprescindível. Vamos começar?

Antes de apresentar o conto em si, vou propor que comecemos a pensar a respeito do assunto. Dessa forma, você amadurece e se abre para captar nele sua riqueza, e aproveitar suas lições.

Fiquei me perguntando como começar a conversa sobre esse tema, e decidi que minha abordagem começa por aqui: O Barba Azul Existe - e você precisa enxergá-lo.

Encaremos de frente: o mal existe, às vezes pode travestir-se de riqueza e amabilidade, e precisamos estar atentas para nos proteger dele! Temos que nos preparar para enfrentar esses monstros, sejam eles personagens do mundo ao nosso redor, sejam eles parte da nossa psique.

É claro que qualquer pessoa que esteja lendo este post já percebeu que o Barba Azul representa algo de mal. Clarissa, em Mulheres que Correm com os Lobos, o define como um verdadeiro potentado predatório, cuja intenção é nos destruir. Ele pode ser um parente ou conhecido seu, no mundo físico, mas ele também existe dentro de você. É um aspecto de sua psique que trabalha contra a sua natureza, e contra tudo o que for positivo: contra o desenvolvimento, contra a harmonia e contra o que for selvagem.

Ele "surge no meio dos planos mais significativos da alma, isola a mulher de sua natureza intuitiva e a faz sentir-se frágil diante da vida".

E, por que insisto em dizer que o Barba Azul existe, se, no mundo em que vivemos, a mídia privilegia a desgraça, e basta ligar a TV ou abrir o jornal para que o Mal seja cuspido na nossa cara? Será que você já não sabe disso? Pra que ficar estudando o Barba Azul, se são tantos os monstros da vida real, enclausurando famílias inteiras, estuprando as próprias filhas, jogando garotinhas pela janela, escravizando seres humanos, que essa idéia de que o mal existe, e de que precisamos estar preparadas pra nos proteger dele já deveria estar mais do que entranhada em nós.

Pergunto: está???

Estamos preparadas para, na presença do predador, detectá-lo, e combatê-lo? Estamos preparadas para detectar qual parte de nossa psique joga contra nós, e anular o efeito de suas cruéis investidas? Se não, por quê? Vamos pensar nisso.

Quero trabalhar aqui a irrefutável teoria de Clarissa, sobre a negação do Mal.

Qualquer mulher que já tenha parado para pensar na educação que recebeu e no que a sociedade demonstra esperar dela, percebeu que há uma mensagem que se repete, implícita ou explicitamente:

não veja, não tenha insight, não fale, não haja.

Clarissa chama isso de "introjeções sombrias que, para as mulheres, são objeto de controvérsia". Ou seja: você recebe essas mensagens a vida toda, acaba acreditando que são verdadeiras, e as incorpora em seu modo de ser.

Mas... sua mulher selvagem, sua alma, sabe que isso não está certo. O antídoto para o mal, a forma de expulsar o predador, é fazer exatamente o contrário. Clarissa nos aconselha:

"tente prestar atenção à sua voz interior; faça perguntas; seja curiosa; veja o que estiver vendo; ouça o que estiver ouvindo; e então aja com base no que sabe ser verdade."

Um conselho como este pode parecer estranho: veja o que estiver vendo, ouça o que estiver ouvindo. Não é até engraçado? Não!!! Não é engraçado! É muuuito triste. O fato é que somos treinadas, desde crianças, a não ver o que estamos vendo, não ouvir o que estamos ouvindo. Aprendemos, desde cedo, a dourar a pílula. Amenizar as situações. Esconder o que é feio. Usamos eufemismos, palavras à meia-boca, expressões de constrangimento, e varremos a sujeira pra debaixo do tapete. Tanto fingimos não ver o que estamos vendo, que acabamos nos convencendo de que aquilo que estamos vendo realmente não existe. Complicado, não? Nem tanto.

Quem já não mordeu a língua para não chamar de agiota aquele conhecido que vive de emprestar dinheiro a juros extorsivos, porque seria ofensivo? Na nossa sociedade, é falta de educação ou preconceito (veja só!) chamar o gordo de gordo, o careca de careca, o pobre de pobre, o negro de negro, o velho de velho... Ou seja: não podemos dar nomes aos bois, porque é feio.
Temos muito acesso à informação, mas quando os problemas estão muito perto de nós, há uma enoorme dificuldade em se falar abertamente sobre eles.

Infelizmente, ficamos sabendo, a todo momento, de casos e mais casos de famílias inteiras acobertando todo tipo de loucura. Pais pedófilos, que abusam por anos a fio dos próprios filhos, sem que isso venha à tona; alcoólatras que nem ao menos percebem que são alcoólatras, porque ninguém tem coragem de falar sobre isso; mulheres que apanham frequentemente, e que não conseguem pedir ajuda a ninguém; pessoas doentes, que não têm coragem de se assumir doentes... Tanta coisa...

A impressão que tenho é de que se aprende, desde cedo, que quando a coisa parece ser muito feia, melhor fingir que nada aconteceu.

E posso dizer que, se cada um de nós começar a pensar na própria vida, vai encontrar inúmeras situações em que a conclusão a que chegamos foi essa.

Você lembra de algo assim em sua vida? Alguma coisa que foi tão abafada por todos ao seu redor, que você chegou à conclusão de que o melhor a fazer seria fingir não ter visto, não ter ouvido, e não falar nada?

Será que, de tanto passar por isso, você não introjetou essa idéia de não enxergar o que é muito feio ou ruim? De negar a realidade? Pense nisso. E me conte. Abra os olhos e veja, de verdade, o mundo ao seu redor.

Escrever sobre isso me fez lembrar dos três macaquinhos da lenda dos três macacos sábios. Você conhece? Vamos falar sobre ela numa próxima oportunidade!

Vou ficar por aqui, esperando seus relatos de "negação da realidade". Quero muito que vocês se dêem ao trabalho de relatar seus próprios casos, e fazer suas próprias reflexões.

Vou esperar por isso! Trocando, aprendemos!

Beeeijos!!! :)
Analú

12 comentários:

  1. Ana

    boa tarde

    já estou seguindo e adicionando o link no BONDeindica. Parabéns pelo novo espaço, está além de muito bonito, instigante e inteligente.

    Desejo sucesso.

    Aproveito para te convidar e a seus leitores, para conhecer um novo espaço:

    http://007conexaoblogs.blogspot.com/

    O ConeXão tem por objetivo aglutinar e divulgar blogs e blogueiros e as principais matérias da Web. Entrando como seguidor o link é automaticamente publicado.

    Um abraço

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  2. O Barba Azul em cada um de nós
    Não me considero um estranho nesta discussão "feminina", porque violência é um tema social que interessa a todos.
    "Temos que nos preparar para enfrentar esses monstros, sejam eles personagens do mundo ao nosso redor, sejam eles parte da nossa psiqué".
    Considero que nessa frase Você apresentou uma possível solução para o caso. É preciso estudar a psiqué social, a masculina e a feminina. Não existe um monstro à espreita. Existem indivíduos com má formação de personalidade.
    Homens que se consideram superiores, mulheres que se consideram inevitavelmente submissas. Ou vice versa.
    E até sociedades que, como grupo de pressão, condicionam seus integrantes a agirem como dominadores e/ou dominados, sejam homens ou mulheres.
    Qualquer indivíduo - independente de gênero- que se considerar um vitimado por gênero estará caindo em uma armadilha de seu Barba Azul interior.
    Abraços
    Luiz Ramos

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  3. Analú, sucesso, todos devem saber, o quão importante é saber detectar nossos fantasmas,pois barram nosso despertar.
    Malú.

    Bjs

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  4. Parabéns e sucesso, realmente, todos devem detectar essas barreiras pois, impedem nosso sucesso.
    Bjs

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  5. Realmente, essa não é uma questão "feminina". Dentro de nossa psique, sejamos homem ou mulher, existe um aspecto "contra naturam" inato, uma força voltada contra a natureza, que se opõe a tudo o que for positivo pra nós. Clarissa, de "Mulheres que Correm com os Lobos", o qualifica como um verdadeiro "potentado predatório". E é por isso que precisamos estudar essas histórias, para começarmos a conhecer nosso predadores internos, e nos prepararmos para enfrentá-los. Quanto mais consciente formos desse nosso lado que age contra nós, mais conseguiremos reagir a ele, e agir a nosso próprio favor. E mais conseguiremos não nos envolver com os monstros da vida real, sejam homens ou mulheres.

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  6. Voltei! rsrs... Pensei aqui no caso Bruno, que já comentamos... Se Bruno for mesmo o autor do crime, podemos dizer que ele é o próprio Barba Azul, até pela forma como o crime foi executado. Aliás, recebi um comentário dizendo exatamente isso. Uma mulher que se envolve com um homem desses está sendo vítima dele porque, antes de qualquer coisa, é vítima de seu Barba Azul interno, que a faz sentir atração por algo que deveria repelir, e não permite que perceba o perigo latente, a cega...
    Por outro lado, o próprio Bruno é vítima de seu Barba Azul interno quando não enxerga que envolver-se com uma mulher com aquelas características poderia lhe causar problemas.
    Há coisas tão evidentes, para quem está de fora da situação, mas tão complicadas para quem vive a situação... como evitar essa "cegueira"?
    Acho que podemos, sim, nos treinar nesse sentido... como diz Clarissa:
    ver o que estamos vendo, ouvir o que estamos ouvindo...
    Precisamos perceber mais claramente os recados da nossa alma, abrir caminho e dar ouvidos para os nossos insights... Isso é muito uma questão de estarmos em sintonia com a nossa alma, porque ela tem as respostas pras nossas questões...

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  7. Dando condições de sobrevivência a todos, incluindo as mulheres. A cada hora morre no Brasil pelo menos duas mulheres vítimas de violência masculina...muitas delas de classes mais humildes. Uma razão? por dependência financeira.
    O Barba Azul se fortalece mediante muitos fatores Ana...Uma delas, falta de condições de educação adequada as mulheres, falta de condições de ir adiante...

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  8. Verdade.
    Que venham outros comentários.
    Que se faça a luz!
    Luiz Ramos

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  9. adorei a ideia, a proposta de reflexão, o apelo ao debate e a solicitação de contributos!

    apesar do enorme fascínio pelo tema, da admiração pelo modo de abordagem e de reconhecer a coragem pela iniciativa, dificilmente estarei à altura

    desde logo, desconheço o Barba Azul, o Bruno e a Clarissa...

    tirando essa minha debilidade curricular, embora tremenda, estou disposto a participar modestamente: primeiro, sou portador, senão mesmo titular, de uma espécie de barba (há quem diga que é apenas pelo sim, pelo não...) ameaçando azular, o que me torna indiscutivelmente um sujeito dessa problemática por via do, ao menos quase, cumprimento de um requisito básico, qual seja a barba, praticamente o ano inteiro, excepto no Verão, invocadas razões sanitárias de proporcionar um pouco de sol ao arcaboiço; quanto ao outro requisito básico, a cor azul, peço equiparação em virtude de uma alegada tonalidade, nomeadamente em fins de tarde "sponsered by Bombay", o tal gin que faz a diferença e se a diferença é relevante no caso do enigmático assunto em apreço

    (isto até aqui ao som de Ana Moura, queiram fazer o favor de conferir: http://www.youtube.com/watch?v=zreA3NgiPYE&feature=related e digam lá se não acreditam, e desejam, que a sorte pode mudar!)

    e agora sim: aqui há tempos, numa zona rural do centro de Portugal, uma demorada investigação policial identificou como autor de um crime hediondo, contra uma jovem cordata e promissora, um antigo militar da guarda republicana, que levava uma pacata vida familiar e gozava de boa reputação geral; preso, confessou uma série de outros crimes e colaborou na descoberta de cadáveres de outras jovens mulheres, respeitantes a outros tantos processos criminais há muito em aberto; tempos após, feita a justiça possível e beneficiando de prerrogativas a que as suas vítimas não tiveram acesso, o confesso homicida declarou-se incapaz de justificar tão violentos, irreversíveis e inexplicáveis actos; muitos se pronunciaram sobre o assunto, a partir de perspectivas forenses, sociológicas, médico-psiquiátricas; mas impressionou-me o depoimento do padre da aldeia, invocando que, em última análise, ninguém sabe o que vai dentro de uma alma; humana...

    voltarei, pois, a este lugar de partilha, carregando a perplexidade de muitos, a contrariedade de tantos, o optimismo de alguns e, porventura, as dúvidas que experimento ao avaliar comportamentos - por exemplo, o que dizer de autênticos cadernos de anúncios pornográficos, com explícitas fotos a cores e mensagens ostensivas, constantes de jornais de grandes tiragens, acessíveis a todas as pessoas, crianças incluídas, nas bancas de venda, nos cafés, em toda a parte, integrando o plano de negócios e a taxa de rendibilidade dos proprietários dessas publicações e dos seus anunciantes, sem qualquer restrição quanto ao acesso por menores, à vista de todos?

    até breve, então

    ;_)))

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  10. Fui educada e eduquei meus filhos sabendo que existe o bem e o mal,e que o mal prevalece porque o bem é tímido.Sempre soube defender-me dos riscos e minha filha para falar só de mulher seguiu à risca os ensinamentos.Nada de capa para encobertar o que está errado e com boa pinta.

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  11. Oi, Analú
    Achei muito interessante o seu Post. Realmente acho que o Barba Azul, para pavor das mulheres, ressuscitou. Na minha opinião há uma resistência muito grande, de alguns homens, em aceitar a posição conquistada pela mulher de hoje.Aliás, não é bem de hoje, há anos tenho observado que mesmo estudando muito, trabalhando com dedicação, a mulher sente ainda dificuldade em ocupar cargos de chefia e receber o mesmo salário que os homens.
    Em se tratando de violência, os homens estão tratando as mulheres sem o respeito e o carinho que elas merecem. Eles têm muita facilidade em cometer erros de julgamento em relação às mulheres e alguns, ainda exibindo um falso machismo não conseguem valorizar as mulheres, mesmo delas dependendo até para existir.Tudo isso é pouco se considerarmos os últimos acontecimentos em que alguns resolveram acabar com as mulheres. Muitos não aceitam a separação, outros não querem assumir os filhos que tiveram, enfim mostram-se covardes e não admitem os direitos das mulheres. Sem argumentos, sem amor, sem caráter eles matam. Alguns ficam impunes e incentivam outros a matar. As leis são fracas e os homens também!
    Quando nasci, há 67 anos atrás, não tive muita sorte em ter nascido mulher, pois meu pai não admitia outro sexo, senão o dele.
    Graças a Deus tive um carinho, dedicação e amor da minha mãe que superaram essa falta e me deixaram crescer e me tornar uma adulta cheia de amor para dar.
    Depois que conheci o meu marido, há 42 anos, pude entender a diferença que existe entre os homens. Ele me mostrou o que é viver bem, feliz e ser valorizada, sempre.
    Ainda existem homens que valem a pena amar!
    Mas, o seu assunto é o Barba Azul dos dias atuais, esse precisa ser punido, expulsos do convívio social, extinto, se possível.
    Fico preocupada com as mulheres que procuram a delegacia de mulheres para denunciar abusos e maus tratos e não são levadas a sério, por outras mulheres. Isso é o fim, não podemos aceitar.
    Ainda penso que os homens são mais unidos que as mulheres e se protegem mutuamente.
    Um abraço e tudo de bom!

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  12. Tantas colocações de tantas matizes! Minha experiencia pessoal é que encontrei um Barba Azul desde muito cedo dentro de minha casa e não diferente o meu caso é o mais comum quanto ao Não ver o que tinha que ser visto,ou seja, o varrer para debaixo do tapete.
    Hoje acordei com a clareza sobre as figuras dos Barbas Azuis nas minha historia de vida - os externos e os criados pela minha psique - Nisso, o processo de abuso sexual,psicologico e emocional alastrou para um abuso que hoje reconheço como Social. Depois de um bom tempo algumas pessoas que convivem ou conviveram proximos a minhas historia dizem que eu amadureci; e a pergunta não se cala na minha mente,ok! Fiz a minha parte de falar o que tinha que ser falado de forma menos emotiva,então, ganhei estrelinhas por isso...Mas, e como ficam os Barba Azuis mesmo ? Nesta busca compreendi que há algo além do bem e do mal, além das questões de generos. Creio,sim, que existem pessoas com má formação de carater e elas podem ser do bem em alguns aspectos de sua vida.Aprendi também que é necessário lidar com o Barba Azul como um problema de saude pública,pois educar-nos a manter distancia dos maldosos nos fazem viver neuroticamente controlados e controlando (quantas crianças com 8 anos já possuem fone celular ou tem seu computador e que podem ou não usar porque a pedofilia está solta) fizemos um caminho ao pensar entre bem e mal que nos aprisionou numa especie de bolha da perfeição daqueles que são do bem e o encarceramento dos que são do mal.Dai me vem a imagem...hoje quantos de nós de fato colocariamos nossos entes maldosos na cadeia ou os isolariamos. Todos, sem exceção, tem em suas familias pessoas que vivem maiormente o seu lado mau-sombrio. então,porque a ideia de que temos que isolar aqueles que fazem mal vivendo como o maldoso é na familia de outrem e nunca a nossa...Será que dai alimentamos mais e mais por para baixo do tapete ? Outras vivencias que já tive já me comprovaram que a situação financeira não define o grau de agressividade ou enfrentamento dela,pois isto é uma questão de carater.Ou será que em familias que há juizes, prefeitos, milionários as situações de Barba Azul são resolvidas?
    Abraços, auto-reflexão é uma estrada que nos leva a liberdade. Convido a pensar nisso para que de fato situações onde o Barba Azul continua a existir seja extirpado pela clareza e coragem do enfrentamento dos fatos.

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