sexta-feira, 10 de maio de 2013

Alienação de ser mulher. A mutilação feminina para dar prazer não muda o caráter consciente da liberdade da mulher.


A mulher saiu do lar. Já é maioria nas universidades, adquiriu direitos que foram a muito tempo objeto de luta por muitas outras “deusas-guerreiras” de outras épocas. Não satisfeita, encontrou lugar para discutir seu papel no mundo e seu lugar consciente e inconsciente ganhou espaço e o mais importante: sentiu-se capaz de amar como bem lhe aprove. No século XXI, algumas mulheres resolveram resgatar antigos costumes e retornar ao lar, porque QUER e porque é o seu DESEJO. Desejo totalmente lícito, conforme a “pele que foi arrancada” e o retorno ao seu próprio self.

Com tanto para desejar e como ser desejante a mulher consegue decidir pela própria beleza. Ai começa a catástrofe. Essa semana passando por um local conhecido, eu vi uma mulher muito querida e muito bonita ou pelo menos ERA. O problema é que não a reconheci. É exímia profissional e mãe. E, mesmo depois dos quarenta, mantinha o frescor da beleza de menina, não abusava de muito para ser bonita. O problema são as invenções. Eu cumprimentei a todos e falei e não falei com ela, porque reconhecia e não reconhecia. A minha sorte é que ela usava uma espécie de crachá. Lamentei internamente o que fez com o rosto. O nariz estava torto, a boca estava cheia de botox e preenchimentos. O pior é que eu não conseguia desviar os olhos, a diferença era muito gritante.

É preciso salientar outro fator: as famosas “mexidas no corpo”. Apesar de várias pessoas relatarem que o pós-operatório de uma cirurgia plástica como “atropelamento de caminhão” o número de cirurgias só aumentam no mundo. E o que faz uma pessoa colocar silicone? São vários os motivos que levam uma mulher a realizar uma cirurgia para aumento das mamas: está descontente com os seus seios porque são pequenos, são desproporcionais em relação ao corpo, cada seio tem um tamanho diferente e também por motivos de reconstrução devido a doença ou acidente.

De acordo com o Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, em cerca de 80% dos casos não há nenhuma necessidade médica e as pacientes buscam apenas mudanças na aparência. Os outros 20%, indiretamente, também intentam melhorias estéticas, mas se referem às cirurgias de reconstrução, pós-tratamento para o câncer mamário.

Pensem na seguinte frase: A mulher indiana moderna é independente, dona de si – e não é obrigada a viver com sua pele escura. Essa é a mensagem transmitida por um número crescente de companhias mundiais de cosméticos e produtos para o cuidado da pele, que estão expandindo suas linhas de produtos e verbas publicitárias para a Índia para capitalizar sobre o aumento dos orçamentos femininos. Uma linha comum engloba cremes e sabonetes que supostamente clareiam o tom da pele. Eles são normalmente divulgados com uma mensagem de “poder” sobre assumir a própria vida ou ir adiante. “Metade do mercado de produtos para o cuidado da pele na Índia é de cremes de clareamento”, diz Didier Villanueva, gerente da L'Oreal India, e entre 60 a 65% das mulheres indianas usam esses produtos diariamente. A L'Oreal entrou nesse mercado específico há quatro anos com produtos Garnier e L'Oreal, mas até agora tem apenas uma pequena fatia do mercado, disse ele.

Apesar de o desejo de embranquecer a pele cruzar o espectro social, é entre as classes médias e baixas que a indústria tem mais adeptos. Os produtos são vendidos para gente jovem e impressionável e para mulheres pobres, às quais vendem embalagens econômicas. É exploração. Isso não é potencializar a mulher, potencializar a mulher é fazê-la sentir-se bem do modo como nasceu, de forma que não sinta que tem de comprar esse produto. E, além disso, à diferença do comprimento do cabelo, de ser mais ou menos gorda, a cor da pele é impossível de mudar.

Por fim, não basta clarear a pele, tem que clarear a vagina. Indiano é acusado de racismo após lançar publicidades de creme que clareia a vagina: Um jovem casal indiano - de pele bem clara, é bom notar - passa o tempo na sala de casa. Ele lê o jornal, impassível. Ela, entre caras e bocas, demonstra a frustração pela desatenção do marido. Eis que entra em cena o creme clareador Clean and Dry Intimate Wash, que não só tem ph balanceado como clareia a pele de moçoilas atormentadas por uma vagina insuficientemente branca. Et voilà: a paixão e a alegria voltam a reinar entre os pombinhos.

Segue Abaixo o vídeo:


Agora o mais aterrador: Sabe a Unilever? Da campanha Beneton? Da campanha Dove de beleza real? Pois bem. Pensem na seguinte “história de amor” divulgada pela Poind’s da Unilever na Índia:
Mocinho branco se separa da mocinha morena e se compromete com a mocinha branca. Mocinha morena, com a auto-estima em frangalhos, descobre o milagroso creme Ponds White Beauty e começa a usá-lo. Mocinho branco e mocinha cada vez menos morena se encontram casualmente algumas vezes. Quando a mocinha morena já está com a pele suficientemente clara, mocinho branco a persegue e os dois terminam juntos.
Tradução: clareie a sua pele para conquistar um macho (preferentemente, de pele clara também). Ser escuro é feio. Só são viáveis as relações entre pessoas de mesma cor. A sua autoestima está ligada à cor da sua pele. Se você não gosta da cor da sua pele, tudo bem, nenhum problema. Temos um creminho para isso. A mocinha que clareou a pele é mais nobre que a mocinha de pele naturalmente clara, o que reforça o caráter ético de quem usa o produto, dando aquela massageada na consciência.

Eis os vídeos:

PARTE 1 
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5

Para finalizar o que mais surpreende, é que nenhuma dessas mulheres que lutam para se tornarem desejáveis ao outro se libertam na hora da sua escolha. A verdade é que a própria mulher ainda se mutila para ser desejável ao outro, mas não muda os seus conceitos de liberdade e ação. Não permitem a si nem ao próximo a liberdade de ser, viver e agir conforme a própria livre consciência. Fico a pensar: muitas garotas e mulheres são mutiladas no mundo oriental para não terem prazer, enquanto muitas mulheres e até garotas ocidentais mutilam o corpo, a pele e a consciência para dar prazer.

Escrito por Deia Lindolfo
em 02 de outubro de 2012

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