sexta-feira, 2 de março de 2012
Três Gerações
Linda Daly Meshil
Há três mulheres jantando numa fria saleta cor de salmão
refletidas numa mesa de madeira polida, longa e profundamente marcada
antes beleza elegante e intocável, hoje ordinária e útil
Manchas e espirros de frutas não contam
Gotas de sangue de carne não importam
Elas comem com a indiferença de velhas amigas
O líquido derramado não lhes chama a atenção
E o escorregão da faca pode ser esquecido
A velha senhora reina em silêncio sobre a longa mesa de cicatrizes
Tão antiga como o hábito que soprou vida na matéria
E pronunciou as palavras “nos criou”
Seu prato está limpo
Exceto pela faca e garfo ali cerimoniosamente depositados
Uma vasilha com ameixas maduras e suadas dorme
intacta por suas mãos retorcidas
Ela está satisfeita, contente por ter terminado a refeição antes delas
Ela espera para sair da mesa em sinal de cortesia para com
As que ainda não terminaram.
A jovem senta-se em frente à velha e com seu dedo
Acompanha um risco na superfície da longa mesa de cicatrizes.
Ela viaja por toda sua extensão para chegar até a vasilha com frutas suadas.
Seu sabor e textura agradam-lhe
A pele firme e macia escorrega ao seu toque e escapa até o meio da mesa
Onde é resgatada rolada de volta e fatiada
Satisfeita
Só resta um caroço do lado do prato
E o sangue da fruta em suas mãos
A meio caminho entre as duas está sentada uma outra mulher que olha para a marca redonda
e molhada do suor no meio da longa mesa de cicatrizes
Testemunha dos crimes de roubo e assassinato
Nada se ouve ou diz entre elas
A velha senhora logo sairá
A mais jovem ficará para a sobremesa e a mulher do meio
raspará os restos mortais da festa muda,
mirando-se no espelho da sala de jantar onde verá
envoltas em rosas três mulheres
Uma tão antiga como o ar
uma jovem
e uma a meio caminho entre cá e lá
em suspenso pelos fios silentes do anseio de ser as outras duas.
Por Ana Nunes
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Querida amiga, cunhada e comadre adorei este blog, sabes que sou admiradora da tua arte, sinto-me envolvida nestas três gerações, tao bem representada por teus belíssimos bonecos...
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