ENTREVISTANDO LÍVIA GARCIA-ROZA
Quanto ao público de seus livros ela mesma diz que as histórias brotam sem faixa etária. Falam da natureza humana. E afirma: “É preciso dar crédito à Freud, quando disse que o amor e o ódio são faces de uma mesma moeda. É da natureza humana isso. Somos feitos de conflitos. A família é um canteiro de problemas. A família se suporta, mas há momentos em que há carinho e ai vem a culpa por odiar. Faz parte da vida. Tem uma hora em que não se quer a família por perto. Sentir essas coisas é vida. Faz parte da vida. E a Literatura é o que vai desarrumar você. E te fazer pensar. Pensar em algo inédito, às vezes bizarro. É isso que move a gente. E não todo mundo pensando igual. Claro que dá trabalho e ameaça ser diferente. O sentimento de não pertencimento que dá ser diferente não é fácil. É também preciso se adaptar quando a banda toca. Ou arrisca-se a ficar falando sozinha. Mas temos de encarar essa diferença, esse é o nosso bem maior. Só assim temos o que trocar. Os casamentos quando entre diferentes são possíveis. Trazem novidade um ao outro – e o outro é o Outro. Claro que há momentos em que temos recaídas infantis. Principalmente quando se é jovem. Ser jovem é um sofrimento. Depois se vai aprendendo a lidar melhor com o mundo. É quando as coisas criam nuances.”
Por fim, para arrematar a entrevista perguntei para ela da sua relação com a infância. Seu texto infantil revela a diferença de olhares que existe entre o universo infantil e o adulto. A personagem Betina resolve querer um elefante de verdade para tomar conta de suas bonecas. Quando finalmente se faz ouvir e conhece um elefante de verdade, percebe que o tamanho do elefante é tal que poderia amassar suas bonecas. Volta para casa inconformada e já no dia seguinte começa a pensar em ter... uma girafa. Betina vê o mundo de um jeito e os pais de outro. Eu então lhe disse que me espantei em ver a visão tão contemporânea que ela tem sobre a infância. Betina é uma criança de hoje. As personagens de Lívia são seres que você pode encontrar nas ruas das cidades brasileiras a qualquer hora e minuto. Ela ri dessa minha observação. Ela então contou que sempre teve sua criança interior muito solta e que seu olhar tem a ver com o humor por isso. E terminou com a frase: “É preciso ir além da dor. Precisa dizer mais?”
Eu, se fosse você, iria atrás da obra dessa autora. Não é fácil encontrar seus livros nas livrarias. É preciso encomendá-los, porque sua obra é um desses tesouros escondidos que vivem à parte da mídia.
Por Ana Lúcia Brandão
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