quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Reflexões de uma Avó

Dois e-mails que recebi ontem me impressionaram tanto pelo contraste entre o modo de encarar o mesmo assunto, que me levaram a uma reflexão profunda sobre essa questão… o envelhecimento. Embora tanto já tenha sido pesquisado, escrito e falado sobre esse tema, não se pode dizer que seja algo fácil de ser vivenciado. Principalmente porque, deste lado do mundo, a juventude e a beleza exterior são colocadas como uns dos valores mais importantes da vida – só se equiparando ao sucesso financeiro – enquanto a velhice é identificada com doença, incapacidade e dependência.

Um dos e-mails que mencionei ilustra claramente o medo da velhice e até um certo desprezo por aqueles que não conseguiram manter a aparência que possuíam nos seus anos de juventude. O próprio título – “O Tempo Passa Para Todos” – reflete a tristeza e a desesperança daqueles que consideram a beleza juvenil como valor máximo e não imaginam como vão viver quando as primeiras rugas aparecerem.

Para a mulher, em especial, essa questão pode se transformar num monstro que está sempre à espreita e deve ser mantido à distância a todo custo. Do contrário, ela poderá, a qualquer momento, ser relegada a segundo plano, tanto na sua atividade profissional, quanto no seu relacionamento amoroso e na sua vida em geral. A menopausa torna-se uma espécie de linha divisória entre a juventude e a velhice e entre todas as qualidades e defeitos atribuídos a essas duas fases aparentemente opostas.

No entanto, a vida não precisa terminar na menopausa. Pelo contrário! A partir desse ponto da nossa vida, toda a energia e tempo que eram utilizados para a geração e criação de filhos podem começar a ser aplicados no desenvolvimento de outros potenciais que ainda não tinham tido oportunidade de se expressarem. De repente, por exemplo, podemos ter vontade de tocar um instrumento, de dançar, de cantar, de escrever… e percebemos que esses talentos estavam escondidos dentro de nós e que podem ser ativados a qualquer momento através da nossa simples AUTORIZAÇÃO.

Enquanto acreditamos que já passamos da idade de fazer isto ou aquilo; enquanto nos subjugamos aos ideais de beleza e talentos divulgados e incentivados pela mídia; enquanto acreditamos que não temos condições de fazer mais nada na vida, a não ser nos resignarmos e nos prepararmos para a morte; enquanto mantemos esse tipo de crença, não nos autorizamos a realizar os desejos mais profundos da nossa alma e desperdiçamos um tempo precioso, que poderia e deveria ser usado na expressão da nossa criatividade, para nossa própria satisfação e para benefício das pessoas que nos cercam… e talvez até do mundo.

O segundo e-mail que recebi foi o convite para a palestra de uma das integrantes do “Conselho das Treze Avós Nativas” – e este encheu meu coração de alegria e esperança! Pois vi um grupo de mulheres, de diferentes tradições e regiões do planeta, que não deu a mínima importância aos conceitos e preconceitos relativos à mulher idosa, e saiu pelo mundo mostrando sua sabedoria, compartilhando seus conhecimentos nas mais diversas áreas e plantando sementes de paz e amor.

Isto só reforçou a minha certeza de que a idade não é uma limitação. O que nos limita são as nossas crenças, são os padrões aos quais temos nos submetido há séculos e que insistem em nos convencer de que nos tornamos incapazes com o passar do tempo.

Nossos pensamentos criam a nossa realidade. Se pensarmos na velhice como uma fase de doença, tristeza e impotência, é isso que teremos para nós. Se, ao contrário, pensarmos na velhice como uma fase de libertação e expressão dos nossos talentos, assim será para nós.

É uma simples questão de escolha…

© Vera Corrêa

2 comentários:

  1. Lindo, Vera, um texto muito sensível, de muita lucidez. Parabéns! Vou compartilhar, posso?

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  2. Fico feliz que tenha gostado, Mayara!
    Claro que pode compartilhá-lo! Está aí pra isso :)
    Beijão

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