sexta-feira, 21 de junho de 2013

Emoção não tem idade, em qualquer época da vida podemos amar




Preconceitos em geral inibem as pessoas mais velhas e evitam que se apaixonem, namorem com o cônjuge ou encontrem um novo parceiro. Mas é ao atingir a maturidade, depois de muitas experiências, que o idoso domina as frustrações e melhor sabe aproveitar os momentos prazerosos. Idosos devem trabalhar, sair, viajar, dançar, namorar, se apaixonar, ter fantasias. Viver.



O amor, cedo ou tarde, é sempre o mesmo. O corpo pode mudar, mas não os sentimentos. Depois de muitas experiências e também de desilusões, a pessoa mais velha é capaz de amar com intensidade, mas sabendo lidar com as frustrações inerentes a qualquer relacionamento. Ao contrário dos jovens, torna-se menos exigente e sabe valorizar os bons momentos.

Existe um ditado que diz: “Se a juventude soubesse, e se a velhice pudesse”. Hoje, acho que a juventude ainda não sabe, porém a velhice pode. Cinquenta, sessenta ou setenta, até oitenta ou mais - tanto faz. Os exemplos estão por toda parte. Com uma vida saudável, somos iguais ou melhores depois da maturidade.

O terapeuta americano James Hillman (79), junguiano, escreveu em 1999 o livro A força do caráter e a poética de uma vida longa, no qual faz uma abordagem revolucionária sobre a terceira idade. No capítulo sobre o erotismo observa que, à medida que os poderes físicos decrescem, solta-se a imaginação que fica mais forte e extravagante.

Aceitamos com maior facilidade que um homem mais velho tenha vida sexual ativa; nossa reação costuma ser oposta quando se trata de mulher. Afinal, a tradição sugere que, após os sessenta anos, ela cuide dos netinhos ou tricote em casa. Nada contra tais atividades. Mas é perfeitamente possível ser uma avó amorosa, fazer trabalhos manuais (ou outros) e usufruir a presença do marido ou do companheiro, reservando momentos de intimidade para os dois. Viajar, sair para dançar, namorar, tudo está em aberto. Os que estão sem par, como Jack Nicholson e Diane Keaton no filme Alguém tem que Ceder, apaixonam-se com o mesmo entusiasmo que tinham aos vinte ou trinta anos.

No entanto, é comum pessoas mais velhas sentirem culpa por ter fantasias sexuais, ridículas por ainda pensarem em namoro, em encontrar alguém. Acham que precisam justificar-se. Mas homem e mulher necessitam do estímulo adequado e da presença de alguém que também sinta desejo. E, sem as fantasias e a imaginação, nem o Viagra funciona.

Atualmente vemos mães e pais de filhos adultos, casados ou sozinhos, que trabalham ou voltaram a estudar, como pessoas sem idade. No convívio com os mais jovens percebem que não são diferentes. Ao contrário, sua experiência de vida e entusiasmo ajuda a fazer amigos, e o prazer que sentem em participar de grupos de várias idades continua o mesmo. Não sentem necessidade de participar de grupos específicos, os chamados de terceira idade ou melhor idade.

Alguns, é verdade, têm de lutar contra a má vontade dos filhos, que prefeririam a mãe ou o pai em casa, ajudando com as crianças. Passam, então, a ter medo do ridículo. Falta-lhes coragem de viver um romance. Submetem-se: “Isso é coisa de jovem”. Posso garantir que não é terreno exclusivo da juventude. Sentimento não tem idade e é território da alma, que nunca envelhece.

Fomos criados com muitos preconceitos em relação à idade, principalmente as mulheres. “Não fica bem usar roupas coloridas”, ou “lugar de velho é em casa”, ouve-se. Ora, não devemos aceitar que outros determinem a nossa vida. Se quisermos ficar em casa, fazer tricô por prazer, é nosso direito. Mas ficar em casa sentindo-se só, à espera de que a vida passe para agradar aos outros, não faz sentido nenhum. Nossa imaginação continua livre. Podemos criar e concretizar nossos desejos. Na arte, no amor, na vida.

O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), no poema Amor e seu Tempo, escreveu: “Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo”. E: “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde”.

Escrito por Leniza Castello Branco

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