quarta-feira, 11 de agosto de 2010

SEDNA, a mulher do pássaro

Sedna, filha de um grande caçador, era uma jovem formosa e já em idade de casar. Diversos moços de sua aldeia já se haviam apresentado como pretendentes, mas ela recusara todos. O pai manifestava preocupação, pois estava ficando idoso e não poderia manter Sedna indefinidamente.

Um dia apareceu na aldeia um visitante bem apessoado, de aparência sedutora e vestido com belas peles. Prometeu a Sedna que, se ela o aceitasse em casamento, teria sempre uma tenda limpa e confortável, peles macias para dormir e a melhor carne que o Ártico pudesse dar. Disse ainda que garantiria o sustento de seu pai. Encantada, Sedna aceitou a proposta e foi levada por seu novo marido para uma ilha distante. Lá, descobriu a dura verdade: o homem que parecia tão bonito e simpático despiu-se das peles e mostrou ser um fulmar (ave de rapina do Ártico) disfarçado. O marido-pássaro era cruel e de péssimo caráter, mantendo Sedna praticamente prisioneira. Dava-lhe para comer apenas restos de peixe cru e, como casa, uma tenda terrivelmente suja e cheia de furos por onde entrava o vento gelado. Sedna chorava todos os dias, e o vento levava seus lamentos para muito longe.

Um dia, ao ouvir os gemidos de Sedna que chegavam com a ventania, seu pai, resolveu visitá-la. Ele desconfiou que algo não andava bem e então, saiu com seu caiaque, em busca da filha. Chegando lá, encontrou-a infeliz e maltratada. Como o marido-pássaro estava longe, o pai aproveitou para fugir com Sedna, rumando rapidamente para a aldeia nativa. Durante a longa viagem, pai e filha ouviram gritos e ruflar de asas. Era o marido-pássaro que, tendo descoberto a fuga, vinha furioso, seguido por outras aves de rapina, para buscar a esposa de volta. O marido-pássaro atacou o caiaque com violência e, tocando o mar com a ponta da asa, ordenou que ondas gigantescas se levantassem, tal como nas piores tempestades.

Em pânico, o pai de Sedna percebeu que a única forma de salvar a pele seria livrando-se da filha. Então, para surpresa de Sedna, o velho caçador empurrou-a no mar, para que o marido a pegasse. Mas Sedna não tinha nenhuma intenção de morrer, nem de voltar para o terrível marido: com toda a força, agarrou-se com as mãos à lateral do caiaque, num esforço para voltar a bordo... O pai, cada vez mais desesperado, sacou seu facão de caça e começou a cortar os dedos de Sedna, a fim de obrigá-la a soltar o barco.

Os dedos decepados da jovem foram caindo ao mar, um a um, e transformando-se nas espécies que até hoje habitam as águas do Ártico.

Sedna, lentamente, afundou nas águas, mas não morreu. Desde então, vive nos abismos do oceano profundo, onde se transformou na Deusa dos Mares.

Por Suely Laitano Nassif

2 comentários:

  1. Eu sabia que era umq lenda inuíte...o cara que inventou isso deve ter fumado muito

    ResponderExcluir
  2. e como essa lenda retratam tantas e tantas historias ! Duro e cruel.

    ResponderExcluir