sexta-feira, 31 de maio de 2013

Momento de Fraqueza

No Paquistão, Malala é baleada por Talibans que julgam ser obscenidade desejar estudar. 

Na África, mulheres continuam sendo circuncidadas em nome de uma cultura de fidelidade forçada. 
Na China, cãezinhos são fatiados e grelhados na brasa, no meio da calçada, para serem gostosamente comidos. 
No Brasil, índios são despejados de suas próprias terras e resolvem se autoextinguir. 
A barbárie impera. 

Pedacinhos de maridos infiéis passeiam dentro de malas por elevadores sociais, meninas bonitas são jogadas pela janela, cuidadoras são flagradas maltratando idosos, babás judiam de nenês, enfermeiros matam pacientes injetando-lhes sopa na veia... Nos quatro cantos do mundo fundamentalistas provocam imensas tragédias em nome de Deus. Aqui, bem pertinho, pastores evangélicos vendem o perdão e as graças divinas como se vende bananas numa feira livre: gritando histericamente, sem um pingo da serenidade que se espera de quem diz ter fé. Fazem do homossexualismo uma gripe espanhola do terceiro milênio e promovem entre política e religião um obsceno acasalamento que nos envergonha mais do que filme pornô de produção fuleira.


Louca pra chegar em casa, circulo pelas desgraças do mundo e percebo o farol amarelo. Como um peixinho que sabe não poder ganhar a liberdade pulando do aquário, aciono lentamente o freio, já sabendo o que me aguarda. Flanelinhas entocaiados surgem de todos os lados na noite paulistana enquanto um traiçoeiro farol vermelho me faz refém. Meu cérebro, já carcomido pelos noticiários ensanguentados de todos os dias, me coloca em estado de alerta. Um rapaz vem, amistoso, e suja meu para-brisa limpo, desenhando nele um coração de água com sabão numa descarada estratégia amorosa de se criar a necessidade para vender o produto. Tudo é tão rápido... Busco uma moeda no fundo da bolsa enquanto ele elogia meu sorriso, e finjo acreditar em sua docilidade, mas sei que se eu só tiver moedas miúdas corro o risco de ouvir algum desaforo ou de coisa pior. Já passei por isso algumas vezes. Ele é rápido, e numa só fechada de farol faz três “vítimas”. Aborreço-me. De pronto minha sirene antiautopiedade dispara, tirando-me o direito de sentir em paz o que estou sentindo. Encho-me de culpa e de vergonha por lamentar coisas tão pequenas quando sei que, na verdade, faço parte de uma minoria afortunada. Afinal, até agora, pelo menos, consegui estudar, fiz bom proveito do meu clitóris, não fui colocada numa churrasqueira nem enfiada aos pedaços numa mala... 


Mas... embora meus horrores particulares sejam pequenos, também me aterrorizam. Tanto nos minúsculos quanto nos imensos horrores, há horror. 



Acelero pra chegar a tempo de, paradoxalmente, me embriagar com a barbárie da absurda “Avenida Brasil”, e esquecer um pouco da realidade. Há que se recorrer a algum escape... Eu não fumo, não bebo, não me drogo, e frequentemente não sei o que fazer comigo mesma. 


Eu quero, quero muito não me lamentar, mas o que sinto grita. O mundo às vezes é constrangedor...

Escrito por Ana Lúcia Sorrentino
em 24/10/2012

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Cuidado com os psicopatas. Eles costumam ser alegres e sedutores



A primeira vista, o personagem Léo, vivido por Gabriel Braga Nunes na novela Insensato Coração, pode realmente confundir algum desavisado. Ele é bonito, charmoso e abusa do romantismo para enganar suas vítimas. Na vida real, os psicopatas também são assim. Por isso, nunca se entregue, nem entregue os seus segredos, a uma pessoa que não conhece direito.


Muitos de nós já ouviram histórias sobre uma tia, avó ou bisavó que herdou uma fortuna, mas perdeu tudo porque o marido jogava ou apostava nos cavalos. Era o famoso “golpe do baú”. Um homem bonito, charmoso, mas sem dinheiro, procurava uma herdeira, “fazia a corte”, ela se apaixonava e casava com ele, a despeito dos protestos de todos os familiares. Ele se dava bem. Ela terminava sem nada, morando “de favor” na casa de algum parente. 

Esse personagem ainda existe, é eterno, um modelo de comportamento. E pode ser pior do que um simples cafajeste. Pode ser um psicopata manipulador, como o Léo da novela Insensato Coração, da Rede Globo, vivido por Gabriel Braga Nunes (39). Por confiar nele, a mocinha Norma, interpretada por Glória Pires (48), foi parar na cadeia. 

Na ficção, a beleza e o romantismo de Léo o ajudam a confundir suas vítimas. Na realidade também é assim. Psicopatas são alegres, sedutores, estão sempre de bom humor. Em geral são vaidosos e fazem ótima propaganda de si próprios. Mentem e sentem orgulho de sua capacidade de enganar. Falam de sentimentos, embora sejam frios. Na sua maioria são homens e têm nas mulheres seus maiores alvos. Elas se apaixonam sem questionar e não pensam nas consequências. Ingênuas e carentes, confiam, abrem o coração, revelam aspectos de sua vida que deveriam ficar guardados. A facilidade atual de se conhecer pessoas pela Internet, em bares e baladas, as torna ainda mais vulneráveis. Quem trabalha muito e está bem de finanças (hetero ou homossexual) muitas vezes não tem tempo para investir na vida afetiva e também vira presa fácil. Conhece alguém na balada e após alguns drinques acaba na cama com o desconhecido. Pode ser roubado, enganado ou até mesmo assassinado. 


Como fazer para não ser uma vítima? Desconfiar, desconfiar sempre. Quando se conhece alguém apresentado por um amigo, quando se sabe um pouco da história de vida da pessoa, é possível confiar. Mas alguém que se conhece num site, num bar ou numa balada é uma incógnita. Primeiro, deve-se marcar encontros em lugares públicos, saber o nome verdadeiro, ter o telefone, conhecer um pouco da história daquela pessoa — e não beber muito nos primeiros contatos, para não perder o controle. Quem é prudente jamais leva um desconhecido para casa. Muito menos conta a ele quanto ganha, o que possui. Só depois de alguns encontros, já de posse de bom número de referências seguras, deve-se ficar a sós com alguém que se conhece assim. E quem já está num relacionamento e desconfia das intenções do parceiro? Se desconfia, geralmente tem motivos: ele pergunta muito sobre sua vida financeira, fala pouco de si mesmo, conta mentiras, esquece sempre a carteira ou perde o cartão na hora de pagar a conta, não diz onde mora ou trabalha. Nesse caso, é melhor enfrentar logo a situação e, no caso de descobrir que as desconfianças eram verdadeiras, ter a coragem de se afastar. 

É claro que podemos ter encontros verdadeiros e até um casamento com alguém que conhecemos pela Internet, na rua ou num bar. Mas sem ingenuidade, com os pés no chão. Dessa maneira, se o destino colocar uma pessoa realmente interessante em nosso caminho, não vamos perdê-la, mas com certeza também não seremos mais uma vítima da novela da vida real.




Escrito por Leniza Castello Branco

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mitos e Flores



Desde os mais primórdios dos tempos que a beleza singular, colorida e aromática das flores ilaqueou e encantou os homens. Ainda hoje são usadas para seduzir, como gentileza ou em rituais funerários e de adeus.

Apreciadas pelas culturas antigas, as flores foram usadas para fazer parte de rituais de casamento, iniciação sexual, perfumes e oferendas aos deuses. 

Do encanto da beleza de algumas flores, surgiram lendas que persistem até os nossos dias. 
Era como se nas cores e na delicadeza das flores o homem pudesse aliviar as suas fatalidades. 

Na mitologia grega algumas tragédias e tristezas foram traduzidas na origem das mais belas flores. Elas muitas vezes surgiram do sangue e das lágrimas dos homens e dos deuses. 
Um sentimento de dor era mitigado na delicadeza de uma flor.



Jacinto e o Amor dos Deuses

O belo Jacinto trazia na sua sensualidade de mortal o poder da sedução que despertou a paixão do deus Apolo e de Zéfiro, deus e senhor dos ventos do oeste. Diante da corte dos dois deuses, Jacinto decidiu-se por Apolo, provocando a ira e o ciúme incontrolável de Zéfiro.
Jacinto tornara-se muito amado por Apolo, que passou a segui-lo onde quer que fosse. Corriam pelos campos sob os olhos invejosos de Zéfiro, desfilando sua paixão e corpos perfeitos. Numa tarde de brisa suave, os dois amantes se divertiam com o jogo de arremesso de disco. Apolo arremessou o disco no céu. Jacinto seguiu com os olhos extasiados o vôo daquele disco. Foi neste momento sublime que Zéfiro interviu, mudando a direção dos ventos, fazendo com que o disco arremessado por Apolo atingisse a fronte de Jacinto. Tão logo atingido, o belo Jacinto deu o seu último suspiro, caindo morto sobre os campos. Da sua fronte o sangue jorrou, manchando a terra.

Apolo correu em socorro do amante, tentou ainda ressuscitá-lo, mas nem os seus poderes imortais trouxeram o jovem à vida. Apolo abraçou-se ao corpo do amado. Sentia o tormento da culpa em seu ser imortal. Jurou ao amante que jamais seria esquecido por ele, que todas às vezes que tocasse a sua lira e murmurasse o seu canto, seria uma forma de homenageá-lo e de lembrá-lo. E do sangue de Jacinto que molhava o solo, o deus fez brotar uma flor que trazia o colorido mais belo que a púrpura tíria. Uma flor muito semelhante ao lírio, porém, roxa. Ela traduzia a saudade e o pesar de Apolo. A flor foi chamada de jacinto e renasce toda primavera para lembrar o destino e a beleza perdida de Jacinto.

A flor descrita em nada se parece com o jacinto moderno, talvez seja uma íris ou amor-perfeito. Mas o jacinto como flor ficou a ser o símbolo da dor e da culpa de Apolo. Ou da inveja e da paixão não correspondida de Zéfiro.


Narciso e a Imagem na Fonte

Narciso era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope.


Quando nasceu, o adivinho Tirésias declarou que ele teria uma longa vida, desde que jamais contemplasse a própria figura. 

Contemplar a própria imagem na Grécia antiga era vista como agouro e má sorte. 

Narciso cresceu belo, orgulhoso e insensível aos sentimentos e às paixões que espertava. 


Desprezava a todos que lhe apareciam como pretendentes e seguia pela vida sem amar ninguém, quase inatingível pelos sentimentos. 


A ninfa Eco apaixonou-se por Narciso, mas só conseguiu do jovem a indiferença. 


Eco via na beleza do rapaz os traços de um deus como Apolo ou Dionísio. 
O seu amor não correspondido a faz definhar aos poucos, diante de uma fonte, aonde vai perdendo a voz e só gemendo e repetindo o nome de Narciso. 

Compadecidos, os deuses do Olimpo a transforma em uma rocha que quando por ali passava alguém e falava alto, ouvia o som da própria voz repetida algumas vezes pelo pela rocha que se torna Eco. 

A insensibilidade de Narciso faz com que seja amaldiçoado pela deusa Némesis, que o condena a se apaixonar perdidamente pela primeira pessoa que visse. 

Narciso debruçou-se diante da fonte de Eco para saciar a sede, ao ver o seu reflexo na água apaixona-se desesperadamente pelo que vê. 
A paixão pela imagem que jamais pode tocar leva-o à loucura. 
Passa o tempo todo debruçado sobre a fonte, a amar a si mesmo, sem nunca ser correspondido. Narciso deixa-se definhar diante da fonte, a olhar a sua imagem. Não come, não bebe, ama-se em desespero e reflexo. Vive o desalento de amar a si mesmo até que é transformado pelos deuses na bela flor de narciso. 


Do Sangue de Adônis as Belas Anêmonas

Cíniras, rei de Chipre, filho de Apolo, é um soberano amante da arte e o criador de vários instrumentos musicais, como a flauta. 



Após um banquete regado de muito vinho e música, o rei recolheu-se nos seus aposentos, totalmente embriagado. 
A filha Mirra, que nutria uma paixão pelo próprio pai, aproveita da sua embriaguez para viver este amor, deitando-se no leito do pai e com ele tendo uma noite de amor. 
No dia seguinte, já sóbrio, o rei percebe o ardil. Enfurecido tenta matar a filha, que foge para os bosques. 

É nos bosques que Mirra irá dar à luz àquele que se tornaria o homem mais belo de toda a Grécia, Adônis, filho incestuoso do amor que sentia pelo próprio pai.

Adônis é de uma beleza perfeita. 

Tão perfeita que atrai para si a paixão de Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Nos braços do amante mortal, Afrodite vive dias de intensa e feliz paixão, despertando a fúria do seu amante, o deus Ares, senhor da guerra e da discórdia. 
Preterido pelo amor de um mortal, o deus vinga-se da amante, quando Adônis participa de uma caçada de javalis. 
Ares envia um javali enfurecido que ataca o jovem, ferindo-o mortalmente nas ancas. O sangue de Adônis mancha a erva verde. 

Afrodite corre em socorro do amante, mas já o encontra dilacerado e morto pelo javali. Do sangue do belo Adônis faz brotar as anêmonas, flores brancas e sem cor. 
A deusa que se tinha ferido ao correr entre as silvas, vê o próprio sangue respingar sobre as anêmonas, que se tingem de vermelhas. 
Da sua dor e do sangue do amado foi feita a anêmona, flor da tristeza e do consolo, de raríssima beleza e que floresce e vive por pouco tempo.


Outras Flores... Outras Lendas



Outra lenda envolve Héracles (Hércules), filho de Zeus e da mortal Alcmena. 

Ao nascer o herói não teria herdado a imortalidade do pai, Zeus sabia que se ele fosse amamentado com o leite da mulher, a deusa Hera, tornar-se-ia imortal. 
Assim, ordena a Hermes que leve Héracles junto ao seio de Hera, quando esta estivesse dormindo. Mas Héracles ao sugar o leite do seio da deusa, faz com tanta violência, que Hera desperta e o atira para longe. 
O leite derramado do seio da deusa espalha-se pelo céu, onde cria a Via Láctea e pela terra, onde nascem os lírios ou, em uma outra versão, a flor de lis. 

As papoulas surgiram das lágrimas da deusa da agricultura Deméter, ao ter a filha Perséfone raptada pelo senhor dos infernos, o deus Hades. 
Para amenizar a dor de Deméter, Zeus ordena que Perséfone volte à terra por seis meses e os outros seis meses reina nos infernos ao lado de Hades. 
Assim, quando a filha retorna na primavera, surgem as papoulas, belas e de duração meteórica, para alegrar a deusa da agricultura e das plantações. 
Seja qual for a lenda, a tragédia é sempre amenizada pela singularidade das flores. 
Lendas, como a de Narciso, tornaram-se clássicas e usadas até como forma de expressão da psicanálise do século XX . 
Estão sempre associadas à beleza humana perdida para a morte e para a tragédia, refletida na beleza perene das flores. 


Por Beth Miguez
Fonte: Jeocaz Lee-Meddi - VIRTUÁLIA - O Manifesto Digital



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Alienação de ser mulher. A mutilação feminina para dar prazer não muda o caráter consciente da liberdade da mulher.


A mulher saiu do lar. Já é maioria nas universidades, adquiriu direitos que foram a muito tempo objeto de luta por muitas outras “deusas-guerreiras” de outras épocas. Não satisfeita, encontrou lugar para discutir seu papel no mundo e seu lugar consciente e inconsciente ganhou espaço e o mais importante: sentiu-se capaz de amar como bem lhe aprove. No século XXI, algumas mulheres resolveram resgatar antigos costumes e retornar ao lar, porque QUER e porque é o seu DESEJO. Desejo totalmente lícito, conforme a “pele que foi arrancada” e o retorno ao seu próprio self.

Com tanto para desejar e como ser desejante a mulher consegue decidir pela própria beleza. Ai começa a catástrofe. Essa semana passando por um local conhecido, eu vi uma mulher muito querida e muito bonita ou pelo menos ERA. O problema é que não a reconheci. É exímia profissional e mãe. E, mesmo depois dos quarenta, mantinha o frescor da beleza de menina, não abusava de muito para ser bonita. O problema são as invenções. Eu cumprimentei a todos e falei e não falei com ela, porque reconhecia e não reconhecia. A minha sorte é que ela usava uma espécie de crachá. Lamentei internamente o que fez com o rosto. O nariz estava torto, a boca estava cheia de botox e preenchimentos. O pior é que eu não conseguia desviar os olhos, a diferença era muito gritante.

É preciso salientar outro fator: as famosas “mexidas no corpo”. Apesar de várias pessoas relatarem que o pós-operatório de uma cirurgia plástica como “atropelamento de caminhão” o número de cirurgias só aumentam no mundo. E o que faz uma pessoa colocar silicone? São vários os motivos que levam uma mulher a realizar uma cirurgia para aumento das mamas: está descontente com os seus seios porque são pequenos, são desproporcionais em relação ao corpo, cada seio tem um tamanho diferente e também por motivos de reconstrução devido a doença ou acidente.

De acordo com o Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, em cerca de 80% dos casos não há nenhuma necessidade médica e as pacientes buscam apenas mudanças na aparência. Os outros 20%, indiretamente, também intentam melhorias estéticas, mas se referem às cirurgias de reconstrução, pós-tratamento para o câncer mamário.

Pensem na seguinte frase: A mulher indiana moderna é independente, dona de si – e não é obrigada a viver com sua pele escura. Essa é a mensagem transmitida por um número crescente de companhias mundiais de cosméticos e produtos para o cuidado da pele, que estão expandindo suas linhas de produtos e verbas publicitárias para a Índia para capitalizar sobre o aumento dos orçamentos femininos. Uma linha comum engloba cremes e sabonetes que supostamente clareiam o tom da pele. Eles são normalmente divulgados com uma mensagem de “poder” sobre assumir a própria vida ou ir adiante. “Metade do mercado de produtos para o cuidado da pele na Índia é de cremes de clareamento”, diz Didier Villanueva, gerente da L'Oreal India, e entre 60 a 65% das mulheres indianas usam esses produtos diariamente. A L'Oreal entrou nesse mercado específico há quatro anos com produtos Garnier e L'Oreal, mas até agora tem apenas uma pequena fatia do mercado, disse ele.

Apesar de o desejo de embranquecer a pele cruzar o espectro social, é entre as classes médias e baixas que a indústria tem mais adeptos. Os produtos são vendidos para gente jovem e impressionável e para mulheres pobres, às quais vendem embalagens econômicas. É exploração. Isso não é potencializar a mulher, potencializar a mulher é fazê-la sentir-se bem do modo como nasceu, de forma que não sinta que tem de comprar esse produto. E, além disso, à diferença do comprimento do cabelo, de ser mais ou menos gorda, a cor da pele é impossível de mudar.

Por fim, não basta clarear a pele, tem que clarear a vagina. Indiano é acusado de racismo após lançar publicidades de creme que clareia a vagina: Um jovem casal indiano - de pele bem clara, é bom notar - passa o tempo na sala de casa. Ele lê o jornal, impassível. Ela, entre caras e bocas, demonstra a frustração pela desatenção do marido. Eis que entra em cena o creme clareador Clean and Dry Intimate Wash, que não só tem ph balanceado como clareia a pele de moçoilas atormentadas por uma vagina insuficientemente branca. Et voilà: a paixão e a alegria voltam a reinar entre os pombinhos.

Segue Abaixo o vídeo:


Agora o mais aterrador: Sabe a Unilever? Da campanha Beneton? Da campanha Dove de beleza real? Pois bem. Pensem na seguinte “história de amor” divulgada pela Poind’s da Unilever na Índia:
Mocinho branco se separa da mocinha morena e se compromete com a mocinha branca. Mocinha morena, com a auto-estima em frangalhos, descobre o milagroso creme Ponds White Beauty e começa a usá-lo. Mocinho branco e mocinha cada vez menos morena se encontram casualmente algumas vezes. Quando a mocinha morena já está com a pele suficientemente clara, mocinho branco a persegue e os dois terminam juntos.
Tradução: clareie a sua pele para conquistar um macho (preferentemente, de pele clara também). Ser escuro é feio. Só são viáveis as relações entre pessoas de mesma cor. A sua autoestima está ligada à cor da sua pele. Se você não gosta da cor da sua pele, tudo bem, nenhum problema. Temos um creminho para isso. A mocinha que clareou a pele é mais nobre que a mocinha de pele naturalmente clara, o que reforça o caráter ético de quem usa o produto, dando aquela massageada na consciência.

Eis os vídeos:

PARTE 1 
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5

Para finalizar o que mais surpreende, é que nenhuma dessas mulheres que lutam para se tornarem desejáveis ao outro se libertam na hora da sua escolha. A verdade é que a própria mulher ainda se mutila para ser desejável ao outro, mas não muda os seus conceitos de liberdade e ação. Não permitem a si nem ao próximo a liberdade de ser, viver e agir conforme a própria livre consciência. Fico a pensar: muitas garotas e mulheres são mutiladas no mundo oriental para não terem prazer, enquanto muitas mulheres e até garotas ocidentais mutilam o corpo, a pele e a consciência para dar prazer.

Escrito por Deia Lindolfo
em 02 de outubro de 2012