terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma tarde com Fanny Abramovitch – parte 2

Nos tempos de Mackenzie, Fanny descobriu na biblioteca, que tinha uma escada do tipo daquelas usadas nos filmes de Hitchcock para ler em papel bíblia, fininho, mágico o tal “Tesouro da Juventude” em dezoito volumes. Foi lá que se apaixonou pela história das doze princesas, aquela em que elas saem à noite para dançar e voltam para o castelo quase de manhã, de sapatos nas mãos para não acordar o rei (Andersen). E ela termina com a questão: Quer coisa mais mágica? No Colégio Batista ela ouvia histórias mágicas da Bíblia, em flanelógrafo, contadas pelo pastor Enéas. Ele levava o flanelógrafo para o jardim, fincava o pé na grama. A gente sentava ao redor e ouvíamos sobre A arca de Noé, Davi e Golias, todas as histórias que estão no nosso inconsciente coletivo. Uma maravilha!

Aí ela deixa claro que não viveu só de histórias. Não. Ela namorou, nadou, fez ballet, aprendeu piano, enfim tudo que uma criança e adolescente do seu tempo fazia. Só que sempre esteve à frente dos outros. Foi a primeira entre as colegas a fazer intercâmbio para Paris, por exemplo. Sobre a leitura no cotidiano, ela conta: “havia o passeio até a cidade aos sábados. Era dia de cortar o cabelo, passar pela Editora Vitória, na Praça da República à esquerda, xeretar o antiquário. Então caminhar até a Livraria Francesa e ir até a Brasiliense. E depois na Teixeira.

Na Rua São Bento era hora de comprar sapatos, pés de crianças e jovens crescem sempre. E o maior dos aturdimentos: a Biblioteca Circulante (hoje, Mário de Andrade). Nela podia-se tirar até três títulos e Fanny disse que foi de A de Andrade a Z de Zola. E ainda ia lá para estudar”. E conta um particular: mantém um par de óculos de leitura em cada cômodo da casa, um hábito que aprendeu com Tatiana Belinky.

Viajar então? Sempre com quatro livros. E chega ao aeroporto e compra mais um. “E se o avião atrasar, vou fazer o quê?”. E como foi leitora voraz, a família até a deixou aprender inglês na
União Cultural, considerada “linguá do mau” pelos comunistas. Uma família de cabeça aberta. Apesar desse detalhe, a biblioteca de lá deu um breque nessa leitora sem fim. Lá conheceu Mark Twain, Dorothy Parker, Hemingway, etc. E agradece até hoje o aval dado por Álvaro Moya para que a deixassem ler os gibis em sua casa. Antes, eles eram leitura proibida. E depois da leitura, no clubinho L. Peretz eles trocavam gibis: Laura Lane, Mandrake, Príncipe Valente, o Marciano Squalidus. E conta que na casa dela conversava-se sobre livros na mesa. A avó até aprendeu a ler português. Sozinha, por meio dos livros. Aí Fanny contou que aprendeu a ler espanhol lendo. (Achei na sua estante alguns volumes das obras completas de Jorge Luis Borges).

Durante a entrevista ela disse que também dá muitos livros, os põe para circular. Mas aí, de repente, dá nova febre de ler Hemingway, vai até a estante e, deu todos. Aí começa a comprar e pegar emprestado de novo. Como o “Quarteto de Alexandria” de Durrell, gosto de reler. Conta que entre os gêneros literários não aprecia muito Ficção Científica e Históricos. Clarice Lispector? Releio sempre pela sensibilidade, pela qualidade da escrita dela. Hilda Hilst porque me cutuca, mexe comigo. Aprecia a Lia
Luft do começo da obra. Marina Colasanti a encanta, seus contos para adultos ou crianças. Lindos! Atwood como narradora, tenho a maior sedução por ela. E quem a tem encantado agora é Lívia Garcia-Roza, que mescla humor com uma loucura de psicanalista muito interessante. Uma voz mais desgarrada que me provoca. Comento com ela sobre o humor na literatura e ela se lembra de Menckel, Luis Fernando Veríssimo e suas novelas engraçadas, Woody Allen e Marcos Rey.

Diz que Marcos Rey é um grande autor e que ainda está muito na sombra. Comento o humor refinado de suas personagens e ela concorda. E Sylvia Orthof tão esquecida e que é genial, ambas concordamos. Agora, autores novos trabalhando o humor, não se lembrou de nenhum. E para terminar, comento sobre suas personagens tão sedentas de vida, independentes, libertas, cheias de desejos e dúvidas. Cito Marília de “As voltas do meu coração” que, em tempos de ditadura, sai do amor garantido em busca de um
novo desejo, de Helô que vive pelas ruas de Paris em puro deleite da vida. Fanny fala de Laura de “Que raio de professora sou eu?”, que já virou peça de teatro por duas ou três vezes. Ela completa dizendo que suas personagens são mesmo sua parte procurante, indignadas, buscantes, inconformadas, curiosas, Emílias do avesso. E me aconselha a escrever que: meu encontro com Lobato foi fundamental. Foi conquista sua, livro a livro, deleite puro. Cutucante sempre. Para arrematar Fanny então afirma que o maior valor de vida para ela, sem dúvida alguma, é a liberdade de ser, a liberdade de se expressar

Por Ana Lúcia Brandão

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma tarde com Fanny Abramovich – parte 1

“Ler é pão. Ler é pele.” Fanny Abramovich
Cheguei à casa de Fanny Abramovich para entrevistá-la.
Ela me deixou uns minutos na sala. A sala? Transpira teatro. Uma parede de livros, um bumba meu boi voando perto da janela, um cabide antigo de deixar chapéus e guarda-chuvas com um espelho no meio. Rio comigo mesma. Meu avô tinha um. Eu gostava de passar por ele para ver a minha altura. No começo nem o meu cabelo aparecia no espelho, depois fui vendo a testa, aí os olhos e o nariz aparecendo, até que um dia o rosto todo apareceu. E anos mais tarde, eu tinha de me abaixar para olhar meu rosto.

Não tem jeito! Fanny entende de criança, criança de todas as idades. Não é à toa que é uma grande pedagoga, sempre questionando o que há de arcaico nas escolas: a falta de criatividade, de humor e amor. Coordenou a Coleção Buscas em educação por duas décadas. Sem dúvida a melhor coleção no gênero.

Fui olhar as estantes: diga-me o que lês e te direi quem és. Achei Margareth Atwood, Marina Colasanti, Millôr Fernandes, Woody Allen, Fernando Sabino, Paul Auster, Phillip Roth, Patrícia Highsmith, Rosemunde Pilcher, Edna O´Brian, Drummond, Sylvia Plath, Marcos Rey, Sylvia Orthof e um batalhão de livros de Livia Garcia Roza, entre tantos outros. Eu a peguei na fase “Roza” justo nessa ocasião. Assim é Fanny, sempre em sintonia com o mundo.

Lá vem ela, agitada, pimentinha que só. Sentamos a uma mesa. Perguntei da sua relação com as histórias. Ela disse que veio do berço!?! Sua mãe contava histórias no berço – cantigas, contos de fadas e declamava poesias. Aí ela foi contando da mãe, Elisa Kauffman. Que mulher! Comunista, ativista, professora, diretora do Ofidas (Organização Feminina Israelita de Assistência Social), hoje conhecida como Unibes. Filha de imigrantes vindos da Bessarábia. De Pernambuco veio viver no Bom Retiro.
Casa-se com Francisco Abramovitch, argentino e tem duas filhas: Irene e Fanny. Uma mulher forte, batalha pela justiça social. (E olha que uma mulher ser comunista de carteirinha naquela época, não era brincadeira e ainda por cima grande admiradora do Luis Carlos Prestes. O pai dela foi corajoso, eu acho).

Em 1947 foi eleita a primeira vereadora do Partido Comunista em São Paulo! Pasmei – ploft (quase desmaiei). A mãe dela foi diretora do Sholem, a primeira Escola Israelita Brasileira, aberta inclusive às crianças brasileiras e cujo método pedagógico desembocou no Colégio de Aplicação da USP e no Centro Experimental da Lapa. E arremata: “a pedagoga lá em casa foi minha mãe, eu fui pouco perto dela.” Discordo com meus botões. Cada uma a seu tempo, ora.

Elisa foi amiga muito próxima de Tatiana Belinky. Em um belo depoimento ela afirma: Elisa “tinha paixão por literatura. E eu também.” A mãe morre relativamente cedo, seu enorme exemplo de luta e força virou um legado para as filhas. E Fanny continuou ouvindo histórias só que as contadas pela avó da Bessarábia, que misturava Ídiche com Português. Histórias tão malucas, no dizer de Fanny, incríveis contos russos, que ela só entendeu melhor sobre as histórias quando conheceu os quadros de Marc Chagall. E eu logo imaginei que quando ela deu de cara com os livros da Sylvia Orthof, ilustrados por Tato Gost, deve ter achado que eles eram o retorno das histórias de sua avó mescladas com as da mãe. Que doideira, como diria Orthof.

Porque Orthof tem histórias de príncipe que vai trabalhar na feira para conhecer a realidade da vida (ver “Uxa, ora fada, ora bruxa”), pastora que não quer saber de viver na realeza (ver “Ervilina e o princês”) que devem lembrá-la de Prestes, o cavaleiro da esperança. E a mesa de botequim que passa da vida em boteco para casa de madame (a mesa está de ver-da-de na sala da Fanny, certo?!) - ver o livro “A mesa de botequim e seu amigo Joaquim”. (Obs: esses livros, caras leitoras, só no site da Estante Virtual, viu?) E claro, como toda imigrante, a avó contava de sua viagem feita em 1919 da América até Pernambuco. (Essas histórias são fabulosas. Fortes, na forma de testemunho de vida, de gente que se atirava pelo mundo para lugares completamente desconhecidos, com uma gana incrível para recomeçar a vida).

Por Ana Lúcia Brandão

continua...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Não Vê, Não Ouve, Não Fala...

"Não vê, não houve, não fala, escondido
- na zona de conforto instalado -
tudo se perde pelos seus ouvidos
qual o macaco, em três transformado.

Seus olhos de luz já são desprovidos
não vê aquilo que passa ao seu lado.
Da boca não sai um simples gemido
seus lábios estão: cosidos, selados.

Segue a estrada, sem opinião
nem bem e nem mal o fogem agir
n'alma sufoca a sua emoção

Aprendeu cedo a sempre fingir
beijos e risos em qualquer salão
pra sobreviver, sem nunca existir"

(Jorge Linhaça)

Link para a postagem original:
http://recantodasletras.uol.com.br/sonetos/1049210

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Reflexões de uma Avó

Dois e-mails que recebi ontem me impressionaram tanto pelo contraste entre o modo de encarar o mesmo assunto, que me levaram a uma reflexão profunda sobre essa questão… o envelhecimento. Embora tanto já tenha sido pesquisado, escrito e falado sobre esse tema, não se pode dizer que seja algo fácil de ser vivenciado. Principalmente porque, deste lado do mundo, a juventude e a beleza exterior são colocadas como uns dos valores mais importantes da vida – só se equiparando ao sucesso financeiro – enquanto a velhice é identificada com doença, incapacidade e dependência.

Um dos e-mails que mencionei ilustra claramente o medo da velhice e até um certo desprezo por aqueles que não conseguiram manter a aparência que possuíam nos seus anos de juventude. O próprio título – “O Tempo Passa Para Todos” – reflete a tristeza e a desesperança daqueles que consideram a beleza juvenil como valor máximo e não imaginam como vão viver quando as primeiras rugas aparecerem.

Para a mulher, em especial, essa questão pode se transformar num monstro que está sempre à espreita e deve ser mantido à distância a todo custo. Do contrário, ela poderá, a qualquer momento, ser relegada a segundo plano, tanto na sua atividade profissional, quanto no seu relacionamento amoroso e na sua vida em geral. A menopausa torna-se uma espécie de linha divisória entre a juventude e a velhice e entre todas as qualidades e defeitos atribuídos a essas duas fases aparentemente opostas.

No entanto, a vida não precisa terminar na menopausa. Pelo contrário! A partir desse ponto da nossa vida, toda a energia e tempo que eram utilizados para a geração e criação de filhos podem começar a ser aplicados no desenvolvimento de outros potenciais que ainda não tinham tido oportunidade de se expressarem. De repente, por exemplo, podemos ter vontade de tocar um instrumento, de dançar, de cantar, de escrever… e percebemos que esses talentos estavam escondidos dentro de nós e que podem ser ativados a qualquer momento através da nossa simples AUTORIZAÇÃO.

Enquanto acreditamos que já passamos da idade de fazer isto ou aquilo; enquanto nos subjugamos aos ideais de beleza e talentos divulgados e incentivados pela mídia; enquanto acreditamos que não temos condições de fazer mais nada na vida, a não ser nos resignarmos e nos prepararmos para a morte; enquanto mantemos esse tipo de crença, não nos autorizamos a realizar os desejos mais profundos da nossa alma e desperdiçamos um tempo precioso, que poderia e deveria ser usado na expressão da nossa criatividade, para nossa própria satisfação e para benefício das pessoas que nos cercam… e talvez até do mundo.

O segundo e-mail que recebi foi o convite para a palestra de uma das integrantes do “Conselho das Treze Avós Nativas” – e este encheu meu coração de alegria e esperança! Pois vi um grupo de mulheres, de diferentes tradições e regiões do planeta, que não deu a mínima importância aos conceitos e preconceitos relativos à mulher idosa, e saiu pelo mundo mostrando sua sabedoria, compartilhando seus conhecimentos nas mais diversas áreas e plantando sementes de paz e amor.

Isto só reforçou a minha certeza de que a idade não é uma limitação. O que nos limita são as nossas crenças, são os padrões aos quais temos nos submetido há séculos e que insistem em nos convencer de que nos tornamos incapazes com o passar do tempo.

Nossos pensamentos criam a nossa realidade. Se pensarmos na velhice como uma fase de doença, tristeza e impotência, é isso que teremos para nós. Se, ao contrário, pensarmos na velhice como uma fase de libertação e expressão dos nossos talentos, assim será para nós.

É uma simples questão de escolha…

© Vera Corrêa

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mulheres em Trânsito


Trânsito.

Se há algo, hoje, de que tenho alguma certeza, é do fato de que transito em tempo integral. Buscando na memória algum período longo em que tenha estado em zona de conforto, surpreendo-me ao perceber o quanto isso é raro em nossas existências.

Estamos vivas. E se na infância, as mudanças pelas quais passamos são dramáticas, ao longo de toda a vida elas serão apenas um pouco menos visíveis a olho nú, mas se farão presentes, indubitavelmente. Difícil passar um dia sem que tenhamos visto ou sentido algo novo, sem que tenhamos aprendido, sem que tenhamos, de alguma forma, mudado. Às vezes me pego considerando a vida extremamente curta para comportar tantas mudanças.

Pulamos do colo da mãe para o faz-de-conta com bonecas e então já nos vemos menstruando e nos adaptando a absorventes, sutiãs e desejos. O corpo mal desenhado de menina ganha contornos atraentes, percebemos que há meninos interessantes, e mal nos demos conta disso já estamos experimentando. Frequentamos a escola porque todo mundo faz isso e em meio a um turbilhão de mudanças e hormônios e novidades fazemos escolhas cruciais quanto à nossa vida profissional. Ser bancadas pelos pais, de repente, passa a ser vergonhoso e antes que possamos ter as qualificações necessárias para conseguirmos autonomia financeira, já estamos nos culpando por não estarmos um estágio além. Experimentamos a paixão, espantadas com a violência com que ela nos possui, e, mal piscamos, já nos envolvemos em algum relacionamento sério. De repente, mais mudanças, tão dramáticas quanto as infantis, tomam conta de nós. Engravidamos, e em nove meses o corpo, que mal teve tempo de se acostumar consigo mesmo, sofre uma metamorfose assustadora e, antes que pisquemos, o faz-de-conta vira vida real e nos vemos acolhendo um serzinho novo em folha, cheio de possibilidades, em nosso seio. Mal damos conta de nós e, subitamente, temos que dar conta de uma nova vida. Os filhos exigem uma maturidade que não temos, porque a vida não tem ensaio, e, por mais que tenhamos brincado de bonecas quando crianças, filhos não são bonecas.

O conceito de experiência, tal como o concebemos, de já ter vivido algo e ter aprendido e por isso saber como lidar com situações parecidas, às vezes me parece extremamente frágil. Porque a experiência que adquirimos em certa fase da vida, muitas vezes já não nos serve em outra. No fundo, jamais somos maduras de verdade.

De repente, nos vem a triste constatação de que a paixão tem data de validade. Olhamos para o nosso parceiro e nos perguntamos o que é que aconteceu.

Num estalo, percebemos que não falta muito para que a tão perturbadora fertilidade se vá e comece a provocar em nós sintomas que tememos. A urgência de viver se faz presente e, num momento em que “deveríamos” sossegar, borbulhamos mais do que nunca. Ganhamos coragem, vivemos mais intensamente do que em toda a nossa vida. E a isso se seguirão mudanças às vezes mais radicais ainda, apontando a velhice lá na frente. E assim vamos, sem pausa pra sossegar.

Enfrentamos a morte de aspectos de nossa vida o tempo todo, e parimos novas formas de ver e viver as coisas, as pessoas, as situações. Morremos e nascemos com maior frequência do que imaginávamos ser possível.

E antes que nos acomodemos em qualquer situação, algo novo nos acena do outro lado da rua, e aqueles passos que teremos que dar para chegar lá, muitas vezes parecem impossíveis. A faixa de segurança que deveria nos proteger, na verdade é uma corda bamba há muitos metros de altura, e temos que respirar fundo pra enfrentá-la e vencê-la. Passamos a vida vencendo cordas-bambas.

E assim seguimos. Transitando de uma fase a outra, de um estado a outro, marcando encontros com nós mesmas ali, do outro lado da rua, onde já seremos outra.

Circulamos entre o bem e o mal, a luz e a escuridão, a generosidade e o egoísmo, a razão e o coração, a inocência e a malícia o tempo todo. Somos pudicas e putas, bondosas e megeras, sinceras e dissimuladas. Penetramos na escuridão, descemos ao inferno e voltamos à luz e nesse turismo constante levamos réstias de luz para o escuro e sombras para a luz, aprendendo e ensinando, incansavelmente.


Transitamos.

Em certo momento, nos atrevemos a desobedecer um farol vermelho numa esquina perigosa, à noite, porque já aprendemos que a vida oferece perigos e temos que agir a nosso favor, mesmo que isso desagrade as leis do trânsito. Por outro lado, percebemos que um farol verde sinalizando passagem livre não significa necessariamente que devamos avançar sem olhar, porque já adquirimos alguma prudência quebrando a cara pela vida.

Enfim, entendemos que quem deve determinar nossas rotas e o ritmo em que avançamos somos nós. E que não precisamos pedir autorização a ninguém para atravessarmos nossos precipícios, porque, afinal, somos nós que responderemos por isso, mais ninguém.

Frequentemente penso que viver não é estar de um lado ou de outro. Mas é, justamente, estar trêmula sobre a corda-bamba. Transito daqui pra lá e de lá pra cá cheia de medo e de prazer. E penso que viver, afinal, deve ser isso.


Ana Lúcia Sorrentino